Pequeno trecho do capítulo 03. Qualquer semelhança com a realidade…
(…)
– O senhor pensa que a gente não havia percebido isso? – perguntou, no tom de voz de um criminoso que mostra a um colega de profissão que é mais esperto que ele. – Esperamos um bom tempo até termos alguma coisa contra o senhor. Gente honesta como o senhor dá muito trabalho, muita dor de cabeça. Mas sabíamos que mais cedo ou mais tarde teríamos uma oportunidade. E conseguimos.
– O senhor parece satisfeito.
– E não tenho razão para estar?
– Afinal de contas, eu violei uma das suas leis.
– Ora, para que acha que elas foram feitas?
O Dr. Ferris não percebeu a expressão que surgiu subitamente nos olhos de Rearden, a expressão de quem vê pela primeira vez aquilo que esperava ver. O Dr. Ferris já havia passado do estágio de ver e estava ocupado em dar os últimos golpes num animal preso numa armadilha.
– O senhor realmente pensava que a gente queria que essas leis fossem observadas? – indagou o Dr. Ferris. – Nós queremos que sejam desrespeitadas. É melhor o senhor entender direitinho que não somos escoteiros, não vivemos numa época de gestos nobres. Queremos é poder e estamos jogando para valer. Vocês estão jogando de brincadeira, mas nós sabemos como é que se joga o jogo, e é melhor o senhor aprender. É impossível governar homens honestos. O único poder que qualquer governo tem é o de reprimir os criminosos. Bem, então, se não temos criminosos o bastante, o jeito é criá-los. E fazer leis que proíbem tanta coisa que se torna impossível viver sem violar alguma. Quem vai querer um país cheio de cidadãos que respeitam as leis? O que se vai ganhar com isso? Mas basta criar leis que não podem ser cumpridas nem ser objetivamente interpretadas, leis que é impossível fazer com que sejam cumpridas a rigor, e pronto! Temos um país repleto de pessoas que violam a lei, e então é só faturar em cima dos culpados. O sistema é esse, Sr. Rearden, são essas as regras do jogo. E, assim que aprendê-las, vai ser muito mais fácil lidar com o senhor.
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