Certo dia passou uma reportagem na televisão que mostrava uma rua de algum bairro pobre. A rua já existia há cerca de 20 anos, mas nunca tinha sido asfaltada. A população reclamava. A área, aparentemente, era legalizada. As casas tinham energia elétrica, rede de coleta de esgoto, os moradores até pagavam IPTU. Mas não tinha asfalto.
Reportagens como essa são comuns, passam todo dia em algum noticiário. Mas existe uma pergunta que (quase) ninguém faz, e que talvez seja a mais importante de todas: quem paga a conta? E outra, que às vezes fica mais escondida ainda: as pessoas sabem que as coisas custam dinheiro?
Em relação à segunda pergunta, podemos afirmar, com certeza, que nesse caso da reportagem a conta seria alta. Centenas de metros de ruas a asfaltar, com preparação, material, mão de obra, impostos… sem falar na manutenção. Infelizmente essas coisas não caem do céu.
Quanto à primeira pergunta – quem vai pagar a conta – os entrevistados, todos, dizem que o governo tem a obrigação de asfaltar a rua. Querem empurrar para o governo a obrigação de pagar a conta.
Mas imagine que a situação fosse um pouco diferente. Imagine que a obrigação de pagar a conta fosse dos próprios moradores da rua. Eles deveriam fazer uma “vaquinha” e ratear o custo do asfalto. Imagine que a reportagem, na verdade, fosse uma enquete, e os repórteres estivessem perguntando pra cada um dos entrevistados se eles topariam fazer uma vaquinha pra pagar o asfaltamento.
Como estamos no campo da imaginação, só podemos imaginar o resultado dessa enquete. Mas pode ter certeza: nem todo mundo iria aceitar a vaquinha. A chance de que várias pessoas queiram manter a rua no “terrão” seria muito grande.
Quando empurramos a responsabilidade para alguém que não existe (o “governo”), tudo fica fácil. Um dos grandes desafios da atualidade é fazer as pessoas entenderem que “o governo” é você mesmo. Se falamos “o governo tem que pagar o asfalto”, na verdade estamos falando “eu tenho que pagar o asfalto”.
Se mesmo depois de fazer esse exercício de substituição de palavras você não mudar de opinião, sem problemas, continue defendendo suas idéias. Agora, caso mude de opinião, talvez esteja na hora de questionar e repensar bastante coisa que te ensinaram.


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