Duas pessoas sentadas ao redor de uma mesa. Estão discutindo um assunto bastante importante, que não sabemos exatamente qual é. Sabemos apenas que não interfere na vida de mais ninguém, a não ser indiretamente por alguma espécie de “efeito borboleta”, se é você é fã desse tipo de teoria. Talvez estejam decidindo se na festa de hoje à noite beberão vodka ou cerveja. Talvez estejam decidindo como será dividido o dinheiro que ganharam juntos após fecharem um bom negócio.
Qual o direito que você ou eu temos em interferir na decisão particular dessas duas pessoas? Qual o direito que qualquer pessoa tem de interferir em decisões particulares de quaisquer pessoas? Ao passo que a decisão deles é inteiramente particular, não há espaço para discussão: ninguém tem direito algum de interferir.
Mas essa não é a realidade. Em muitas situações, duas (ou mais) pessoas não podem se reunir, entrar em acordo e decidir algo que atenda ao interesse de ambas. Por exemplo, duas pessoas não podem decidir em comum acordo que uma delas empregará a outra e, em contrapartida, pagará um valor qualquer. Essa decisão está submetida a uma série de leis, como obrigatoriedade do valor pago ser igual ou superior ao salário mínimo, mesmo que o contratado não queira. Ele não tem a opção de abrir mão desse direito, que transforma-se, portanto, em obrigação.
Outro exemplo: um acordo, ou contrato (vamos usar essa palavra, que é importante), celebrado entre duas pessoas pode ser considerado inválido a posteriori. Um terceiro, que não tem nada a ver com a história, pode alegar que os termos do contrato estão em desacordo com uma lei que ninguém nem conhecia. Aquilo que era estritamente particular e estava bom para duas pessoas adultas e sãs pode, de repente, por força de uma lei que nenhum dos dois conhecia, tornar-se um desastre.
Claro que os contratos particulares devem submeter-se à legislação, ninguém poderia dizer o contrário. Um contrato não pode estabelecer que “não haverá pagamento de impostos”, por exemplo. Entretanto, duas coisas devem ser observadas: um contrato particular celebrado por livre e espontânea vontade deve ser o entendimento máximo e final a respeito de uma relação qualquer; além disso, relações estritamente particulares e íntimas não podem ser objetos de lei. Quando a lei invade a privacidade das pessoas, temos o início de uma tirania.

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